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terça-feira, maio 17

Distância

       Me sinto tal qual uma criança que se perde dentro do próprio jardim. Uma curva errada numa árvore recém conhecida e já não se sabe mais onde está. A curiosidade toma conta daquela fresta entre os arbustos e enfiamos nossas maozinhas entre os gravetos, esperando achar o país das maravilhas e tudo que se acha é o fim da curiosidade e o início do desespero. A sensação da liberdade do desbravamento se esvaiu completamente e nos agachamos em posição fetal para cair no profundo de nós mesmos. O pulso pulsa arfante, entre a dor e o consolo. O peito palpita sanguinolento, esbugalhados olhos.- Arrependimento.
E tudo que podemos ver dentro das nossas almas descontroladas é um espelho da fotografia - a imagem da imagem. O inalcançável retorno ao eu. Cada milésimo de segundo dura um ano, sentimos o tempo transcorrer do arrepio dos pêlos. Um suspiro taquicárdico, cada segundo é um século.  A fragilidade exala da epiderme como suor e o frio que goteja por dentro é a ponta perfurante, que não nos deixa desfalecer completamente.

Eu ainda estou esperando você vir me buscar...

quinta-feira, fevereiro 25

Um desenho

"Um desenho era o que eu carregava entre meus braços com cuidado, como se fosse um bebê. Descia a escada em espiral aspiralando meus pensamentos. Ai, cansaço! A sirene da escola havia tocado faz tempo, mesmo assim a quentura do dia de verão não permitiu que deixasse a sala com ar condicionado até que a
fome ordenou.
- Ai, que fome!
As outras crianças desciam correndo a escada que eu saltitava e, mesmo assim, nenhuma delas ia mais longe que meus pensamentos. Um suspirou tomou-me por inteiro e alguém me puxou o braço.
- Oi!
Agarrei-me a meu desenho - que na época era tudo pra mim - com cuidado para ele não voar e virei o rosto para aqueles olhos de castanha de caju. Miúdos e fartos.
- Eu resolvi uma coisa agora.
- Ah, foi?
- Foi! Eu vou ser sua melhor amiga!
- Vai?
Com um esbarro o desenho preciso escapou-me dos braços e os braços dela dos meus braços e os meus braços nunca saíram dos dela. E foram-se indo, a garota dos olhos de castanha de caju e meu desenho através da escada em espiral na qual crianças corriam, mas nenhuma ia mais longe que meus aspiralados pensamentos. A sirene da escola havia tocado. "

E já faz 11 anos, né? A coisa mais preciosa que ouvi em um bom tempo: - Você ainda é minha melhor amiga.

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